Estratégia para proteger a ração contra ameaças de enterobactérias na suinocultura
Com ação prolongada e segura, blends de ácidos orgânicos em alta concentração surgem como aliados estratégicos no controle de enterobactérias e na segurança do alimento
Fernanda de Andrade*
A presença de enterobactérias, como Salmonella e Escherichia coli, representa um dos principais riscos sanitários e econômicos para a suinocultura moderna. Mais do que uma preocupação produtiva, trata-se de um desafio de segurança alimentar que envolve toda a cadeia, desde a fabricação da ração ao consumo final da carne.
A ração composta é reconhecida como uma das fontes primárias de contaminação por essas bactérias. Mesmo quando submetida a tratamento térmico e boas práticas de fabricação, ainda há risco de recontaminação em etapas posteriores, como durante o armazenamento, o transporte e o manuseio. Essas falhas comprometem a qualidade microbiológica do alimento, colocando em risco a saúde dos animais, a segurança do consumidor e a confiabilidade da empresa produtora.
O controle das enterobactérias é desafiador. Elas são capazes de sobreviver em condições ambientais adversas e de se multiplicar rapidamente, tornando-se persistentes no ambiente da granja e nas fábricas de ração. Além do risco sanitário, infecções subclínicas em suínos estão associadas à redução do ganho de peso, pior conversão alimentar e maior vulnerabilidade a outras enfermidades, reflexos diretos em produtividade e rentabilidade.
Diante desse cenário, cresce a busca por soluções seguras e sustentáveis que aliem eficácia microbiológica e viabilidade prática. Nesse contexto, os blends de ácidos orgânicos em alta concentração surgem como uma ferramenta estratégica para o controle de enterobactérias ao longo de toda a cadeia de produção. Esses compostos apresentam ação antimicrobiana ampla, podendo ser aplicados tanto como medida preventiva quanto corretiva, em diferentes tipos de ração e matérias-primas.
A principal vantagem desses blends está no poder residual prolongado, que garante controle contínuo da contaminação. Enquanto compostos voláteis, como o formaldeído, perdem rapidamente seu efeito e apresentam riscos à saúde dos operadores, os ácidos orgânicos permanecem ativos mesmo após o processamento, mantendo-se eficazes durante o transporte e o armazenamento. Essa característica assegura maior estabilidade microbiológica, além de condições de trabalho mais seguras e confortáveis nas fábricas de ração.
Outro ponto de destaque é a alta concentração de ácidos ativos, especialmente o ácido fórmico, responsável por uma ação imediata e intensa contra microrganismos indesejáveis. A tecnologia por trás dessas ferramentas são detergentes dentro do blend, o que permite que os ácidos atinjam diretamente a bactéria, rompendo barreiras protetoras como as camadas de gordura que dificultam o acesso aos microrganismos.
Essas formulações podem ser adotadas na forma líquida e em pó, o que oferece flexibilidade para diferentes aplicações. Enquanto a forma líquida é indicada para uso direto nas linhas de produção, com rápida dispersão e ação imediata sobre os ingredientes, sendo ideal para fábricas de ração que buscam integração ao processo automatizado, a forma em pó oferece praticidade no uso e estabilidade durante o armazenamento, sendo recomendada para aplicação direta em rações prontas ou matérias-primas que serão transportadas.
Independentemente da forma escolhida, a aplicação de blends de ácidos orgânicos de alta concentração contribui para reduzir e controlar enterobactérias como Salmonella e E. coli, prevenindo recontaminações e promovendo a qualidade e a segurança alimentar dos animais. Além disso, esses produtos permitem o uso seguro de matérias-primas provenientes do processo de flushing, reforçando o compromisso do setor com a sustentabilidade e o aproveitamento eficiente de recursos.
O desafio de manter rações livres de contaminação é permanente e requer uma abordagem integrada, que combine biosseguridade, higiene, controle de roedores e insetos, monitoramento constante e o uso de tecnologias eficazes. Nesse contexto, os blends de ácidos orgânicos em alta concentração têm se consolidado como aliados indispensáveis, oferecendo um equilíbrio entre desempenho produtivo, segurança alimentar e bem-estar humano.
Proteger a ração é proteger toda a cadeia de produção. Com o avanço das exigências regulatórias e o crescente rigor dos mercados internacionais, investir em soluções que assegurem a qualidade microbiológica da alimentação animal é também garantir competitividade, credibilidade e sustentabilidade para o futuro da suinocultura.
*Fernanda de Andrade é zootecnista e gerente Técnica de Feed Safety da Trouw Nutrition.